
O Abu Dhabi World Pro de Jiu-Jitsu é uma das competições que são prioridade das principais equipes. Esse é o caso da Almeida JJ comandada pelo faixa-preta Caio Almeida, tricampeão mundial do torneio. Caio tinha planos ambiciosos para a edição deste ano, concluída agora no mês de novembro. No entanto, uma lesão dias antes da competição o impediu de voltar à ação para defender o título.
Em entrevista ao VF Comunica, Caio disse que deixou o vitimismo de lado e resolveu continuar em atividade, colocando outros planos em andamento, tendo sempre o Jiu-Jitsu como prioridade.
“Eu decidi performar em outras áreas. Coloquei o sistema de ensino para funcionar aqui na minha academia, uma metodologia de faixa-branca que está se desenvolvendo muito bem. Fiz uma capacitação geral para os professores da equipe, no sistema de avaliação e de ensino. Estou para abrir um CT novo, bem em frente à minha academia, pretendo inaugurar esse novo tatame agora em dezembro.”, contou Caio, que incluiu uma nova turma kids em seus feitos recentes.
Caio Almeida comentou campanha no World Pro e foi uma integrante do time feminino que mais se destacou na competição
A Almeida JJ continuou muito bem representada no World Pro da temporada. Natália Zumba, uma faixa-preta de Caio que desenvolveu uma campanha excelente no adulto ao longo do ano, foi citada por ele como um dos destaques.
“A Natália Zumba foi o grande destaque do time, ganhou os qualifiers e foi para o adulto. A Maria Luisa também, levei as duas daqui da minha unidade, de Itaquera. As meninas se destacaram na classificação. A Nati fez 18 lutas, ambas se classificaram para um campeonato muito duro. Elas fizeram um bom trabalho.”, elogiou.
É notório que são em sua grande maioria as atletas do time feminino que se destacam no exército de Caio Almeida. Uma equipe com liga, bom entrosamento e com uma parceria perfeita nos treinos. Os resultados não mentem. Livia Barasine e Giovanah Oliveira são alguns exemplos que são promessas da nova geração, campeãs das principais competições da IBJJF, incluindo o Mundial. Bia Basílio e Maria Luisa Nunes fazem parte da elite da faixa-preta e ter elas no tatame, dando o exemplo e motivando, é um dos fatores fundamentais que estimulam o desenvolvimento do grupo feminino de atletas da Almeida JJ.
“Nós temos bons exemplos dentro da academia. Tem a Bia Basílio, multicampeã de Jiu-Jitsu, muito dedicada, muito esforçada, uma boa professora e atleta, leal ao time. Esse bom exemplo arrasta. Temos a Natália Zumba, Jaqueline, Maria Luisa, todas muito leais e fiéis. Tudo que elas fazem é acolhedor, puxando quem está abaixo.”, afirmou.
Segundo Caio, o VAR, árbitro assistente de vídeo, foi um dos pontos altos do Jiu-Jitsu competitivo em 2024
O ano de 2024 está praticamente no fim e já dá para fazer um apanhado de iniciativas que aconteceram nesses últimos meses e contribuíram para o desenvolvimento do esporte no geral. Caio Almeida citou o VAR, recurso de revisão que foi popularizado no futebol e posteriormente adotado no Jiu-Jitsu, a valorização da classe dos masters e o aumento de visibilidade entre os atletas do kids.
“O VAR mudou o esporte esse ano em relação ao Jiu-Jitsu competitivo. O grande benefício é a justiça, porque você consegue controlar o erro humano, que é natural. Com o nível das lutas hoje em dia, é necessário. Cito também a valorização dos masters, com um Mundial de 10.000 inscritos, muitos professores voltando a competir. Verdadeiros atletas profissionais com mais de 35 anos de idade. Outro ganho para o futuro do esporte é levar a grandeza das competições para o público kids, obrigando os professores a se especializarem mais, estudarem. As academias estão cheias de crianças, afastando-as das drogas, das coisas fúteis. O Jiu-Jitsu resgata valores. Hoje uma criança de 10 anos pode sonhar em viajar para competir e ganhar um ouro, não precisa esperar completar 16 ou 17 anos para começar a competir.”, analisou.
Saúde mental do atleta kids deve ser tratada com extremo cuidado e responsabilidade
Um contraponto importante citado por Caio diz respeito ao aspecto delicado que envolve crianças dentro de um planejamento de carreira como atletas. Como lidar com isso sem enfraquecer uma mentalidade infantil, ainda em formação? Para Caio, que tem ampla experiência com crianças devido ao seu envolvimento com projetos sociais, fazer com que uma criança lide com a derrota é uma tarefa mais exigente para o professor.
“Nós vivemos em uma geração que quer colher e depois provar, isso pode causar muitas dores nas crianças, antes de serem atletas profissionais, elas já têm instagram profissional. Eu penso um pouco diferente, acho que você precisa provar primeiro para depois receber. Isso com o sentido de proteger as crianças, elas não têm educação emocional para poder lidar com a derrota e com a exposição que acontece quando se está dentro de uma vitrine.”, explicou Caio.
A busca por medalhas, independentemente da faixa-etária do atleta, não deve ser uma prioridade para quem entende o Jiu-Jitsu como profissão. Esse é um valor que Caio gosta de reforçar dentro das dependências da sua academia. Ele explica como a medalha auxilia na construção de uma carreira de sucesso. Porém, medalha sozinha não tem relevância.
“Faço com que os atletas profissionais mantenham sempre o pé no chão. Não é sobre ganhar medalhas, isso é uma profissão para eles. A medalha dá voz ao atleta, eu explico isso para eles todos os dias. É para isso que serve uma medalha. Isso não é uma máxima, é uma maneira de trabalho. Você não precisa ser um campeão mundial para ter uma carreira de sucesso. Mas eles são atletas e precisam trabalhar, ganhar dinheiro e construir a família deles. Então, o meu foco é fazer com que ganhem, que tenham voz, que se destaquem e passem a ganhar dinheiro. Eu ensino eles a darem aula, a avaliar, até educação financeira ele aprendem.”, finalizou.