
O pódio do Pan-Americano não é exatamente uma novidade para Gisele Menezes, mas o título na faixa-preta, na elite do esporte, tem um significado ainda mais especial. Campeã em outras edições do Pan, nas faixas roxa e marrom, Gisele voltou à competição na Flórida e mostrou que é um nome que merece ser guardado na memória. Campeã na divisão peso médio, Gisele, carioca da Cidade de Deus, é mais um bom exemplo do que o Jiu-Jitsu pode proporcionar na vida de uma pessoa que acredita.
“Eu e minha família nunca tivemos condições de investir no Jiu-Jitsu e por várias vezes pensei em parar de treinar para trabalhar e ajudar a minha mãe em casa. Em 2023 eu lutei o Mundial na faixa-roxa, fiquei em segundo lugar. Fiz um investimento grande para fazer essa viagem, mas quando voltei para o Brasil fiquei triste e me senti egoísta por investir alto. Quando vi minha despensa vazia, doeu e me desanimou bastante. O que me motivou a continuar foi entender que o Jiu-Jitsu pode abrir portas para mudar a minha realidade e um dia ver a minha família bem.”, contou.
Convidada por um policial no Rio de Janeiro, Gisele começou a treinar Jiu-Jitsu na Cidade de Deus ainda na infância
A entrada do Jiu-Jitsu na vida de Gisele começou cedo, quando ela tinha apenas 9 anos de idade. Na Cidade de Deus, ela morava muito perto da base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) e foi convidada, por um policial, a começar a treinar no projeto deles. O convite rendeu bons frutos e Gisele descobriu uma aptidão.
“Sempre amei o esporte e desde a faixa-branca comecei a competir, mas logo o projeto acabou, em 2020, e eu fui para a GFTeam, onde comecei a treinar com o meu mestre, Renato Panda, que me abraçou junto com o Serginho (Miranda). Assim, dei continuidade à carreira e sigo com eles até hoje.”, descreveu.
A vitória de Gisele Menezes no Pan veio acompanhada de uma noção de equipe muito forte. Isso mostra a gratidão que ela tem pelo time que a formou.
“Eu costumo dizer que nós que treinamos na GFTeam Merck temos acesso ao melhor treino do mundo. Ali na GFTeam não me falta nada. Jiu-Jitsu, técnica, apoio, me sinto em casa como se fosse minha segunda família, todos vibram comigo e se eu precisar de qualquer coisa eu sei que posso contar com eles. Hoje eu não tenho patrocínio, mas meus mestres Renato Panda, Serginho e a própria GFTeam me dão suporte nos campeonatos com passagem, inscrição e alimentação. Meu maior patrocinador tem sido meu mestre Panda.”, afirmou com gratidão.

Na jornada no Pan-Americano, Gisele Menezes fez quatro lutas, incluindo a final contra a atleta Ana Beatriz. Na sua chegada a um torneio de grande porte como faixa-preta, ela foi capaz de identificar melhor o diferencial do alto nível e, ao começar a fazer parte deste mesmo grupo, Gisele já foi capaz de sair com o ouro. Mesmo receosa, ela lutou estrategicamente para vencer.
Jogo de passadora garantiu medalha de ouro no peito
De acordo com ela, o melhor de seu conjunto de habilidades, que a levou longe na competição, foram os tipos de passagem de guarda que ela cita como especialidades — a técnica chamada over-under e a emborcada. De fato, uma passagem de guarda foi fundamental para que ela voltasse para casa com o título.
“Por ser meu primeiro campeonato de faixa-preta eu estava receosa, mas com as lutas eu pude ver e sentir melhor o nível, a força e o Jiu-Jitsu das meninas. Eu escolhi fazer uma estratégia de passagem de guarda que é muito eficiente e é meu estilo favorito — over-under e emborcada. Isso me ajudou muito a me sobressair nas lutas. Agora que entendi o nível e conheci um pouco da categoria, com certeza vou lutar o Brasileiro e o Mundial com mais confiança e pretendo ganhar com finalizações e pontuações mais altas.”, salientou.