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Análise: o que a jornada de Roberto Jimenez no Pan tem a dizer sobre o entretenimento no Jiu-Jitsu?

Jimenez foi o lutador mais ovacionado no Pan-Americano após duas medalhas de prata, conquistas no peso e no absoluto

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Roberto Jimenez em um de seus momentos de concentração no Pan da IBJJF.
Roberto Jimenez em um de seus momentos de concentração no Pan da IBJJF. Foto: Dave Kiehl

O Jiu-Jitsu é um esporte que oferece duas oportunidades de prática na cena competitiva — o No Gi, que nada mais é do que Jiu-Jitsu sem kimono, também chamado de grappling, e a modalidade, digamos, tradicional, que envolve luta com o uso do kimono. Ao longo dos anos, em termos de entretenimento, o grappling se desenvolveu em ritmo acelerado, principalmente por sua natureza mais movimentada e, consequentemente, mais “palatável” para o público em geral, fora do nicho de praticantes de Jiu-Jitsu.

Essa tendência, então, começou a gerar questionamentos. Estaria o grappling se desenvolvendo mais do que o Jiu-Jitsu com pano? O No Gi vai tirar a visibilidade do kimono? O Jiu-Jitsu de kimono está deixando de ser apreciado? No último final de semana, aconteceu o Pan de Jiu-Jitsu, na Flórida, nos Estados Unidos. Competição de kimono que faz parte do Grand Slam da IBJJF. O torneio lançou luz para combates que evidenciaram o nível altíssimo dos atletas, mas um desses competidores chamou a atenção por diferentes fatores. 

Roberto Jimenez não foi campeão no evento, apesar de ter disputado as finais das duas divisões que topou se aventurar — peso pesado e absoluto. Porém, é importante salientar, que nem sempre são os títulos que fazem um lutador brilhar. Jimenez, atleta nascido em Miami, nos Estados Unidos, mas filho de imigrantes naturais do Equador, é um atleta híbrido. Isso significa que ele luta com e sem kimono; mais inclinado, verdade seja dita, ao grappling. 

Duas medalhas de prata não foram exatamente o que Roberto desejou; mas a missão de lutador foi cumprida

No Pan-Americano da IBJJF, Roberto Jimenez lutou com coração valente e técnica apurada, uma combinação que provou que uma dedicação maior ao No Gi não prejudica em nada a eficiência de uma jornada em competições de kimono. É preciso equilíbrio. Ganhando com propriedade, Jimenez foi avançando nas chaves e a vontade de vencer que ele demonstrou, a cada luta, foi entretenimento de grande qualidade que ele e o Jiu-Jitsu com kimono foram capazes de oferecer. 

Uma das melhores lutas de Roberto durante o caminho dele no Pan aconteceu na final do peso pesado, contra Adam Wardzinski. Ele não venceu, perdeu por pontos, mas levou perigo constante ao oponente e não desistiu nunca, mesmo diante de situações adversas. Na reta final, reagiu saindo de baixo e quase pegou as costas de Adam, levando o público ao delírio não por torcida contra o polonês, mas pela pura reação do desfavorecido, que sempre impressiona. 

Na final do aberto, ele enfrentou Gutemberg Pereira, campeão absoluto do Pan em 2024. No embate, duro, ele perdeu por vantagens. “Prata dupla, não é o que eu vim fazer, mas lutei de verdade.”, disse Roberto. Impossível discordar.

No Who’s Number One, em participação recente, o atleta de Jiu-Jitsu soube virar assunto

Cabe ressaltar que a participação mais recente de Jimenez em uma superluta sem kimono, contra Elder Cruz no WNO 26, também roubou a atenção. Na ocasião, em fevereiro deste ano, ele superou Elder com um armlock voador e relâmpago, aplicado pouco tempo depois do juiz ter autorizado o início do confronto. De novo, entretenimento puro.

Roberto Jimenez aplica um armlock em luta contra Elder Cruz, no WNO 26.
Roberto Jimenez aplica um armlock em luta contra Elder Cruz, no WNO 26. Foto: FloGrappling

Em entrevista ao VF Comunica depois de uma de suas lutas no Pan, Roberto, que tem um título mundial absoluto lutando sem kimono pela IBJJF, disse que o Jiu-Jitsu une, apesar dos diferentes idiomas que atravessam o esporte. 

“Eu sei que a gente fala diferentes línguas, espanhol, português, mas na verdade, somos todos um, o Jiu-Jitsu nos junta. Jiu-Jitsu, amor e respeito.”. União de nações, foi nesse assunto que ele tocou. 

Nas finais que ele disputou no Pan, em um esporte de raízes brasileiras praticado ali nos Estados Unidos, o filho de imigrantes da América do Sul, norte-americano, lutou contra um brasileiro e um polonês. União de nações, mais uma vez, por um esporte verde e amarelo. Aparentemente, foi só uma campanha de um lutador que voltou para casa com duas medalhas de prata. No entanto, são todas essas camadas que deixam tudo mais interessante, inclusive o Jiu-Jitsu de kimono.

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Escrito por Emmanuela Oliveira

Emmanuela Oliveira é faixa-marrom de Jiu-Jitsu e formada em Comunicação Social. Dentro do tatame, aprendeu que é possível conjugar Jiu-Jitsu, escrita e o gosto pelas artes visuais em um só pacote.

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