O vínculo de Evellyn Azevedo com Melqui Galvão começou nos primórdios da equipe, ainda projeto social, em Manaus, no Amazonas. Por indicação dos primos, Eve passou a frequentar os treinos na adolescência e descobriu uma vocação. Até a faixa-azul, a jovem foi campeã de todos os torneios disponíveis em Manaus. Atualmente, aos 26 anos, Eve é uma faixa-preta que vive do esporte com diversas oportunidades concretas pelo caminho, mas nem sempre foi assim.
“Comecei o Jiu-Jitsu com o mestre Melqui por volta dos 13, 14 anos por indicação de primos, afinal a academia, que na época era projeto, ficava pertinho de onde eu morava. Na faixa-azul, com todos os títulos possíveis conquistados na minha cidade, eu decidi parar porque escolhi fazer uma faculdade. Eu tinha conquistado uma vaga na UFAM, a Universidade Federal do Amazonas, para fazer licenciatura em Ciências Naturais.”, relembrou Evellyn.
Depois da insegurança com a vida de atleta, Eve voltou aos treinos e recebeu a faixa-preta
A escolha pelos estudos no lugar da carreira de atleta é uma realidade frequente entre jovens no Brasil, um país que ainda caminha, em passos bem vagarosos, quando o assunto é a promoção do esporte como ferramenta de desenvolvimento social. Eve ficou longe dos tatames por conta disso. Afinal, a segurança de um diploma poderia providenciar um futuro mais promissor. No entanto, a vocação que ela descobriu nos tatames do projeto de Melqui falou mais alto.
“Depois de mais ou menos quatro anos de faculdade eu entendi, no meu coração, que não estava seguindo o meu sonho e acabei retornando para os treinos em Manaus com o meu mestre Melqui. Conquistei a faixa-preta depois do meu retorno ao esporte.”, contou.
Comprometimento e talento garantiram vaga no time de competição da BJJ College
Ser promovida à faixa-preta pelas mãos de Melqui Galvão é um grande feito, mas para viver uma rotina de atleta e conseguir fazer parte do time de competição, Eve teve que fazer por merecer.
“Por conta da minha disciplina, dedicação e destaque nas competições da minha cidade, o mestre Melqui decidiu me colocar em uma vaga no time de competição em Manaus e em seguida em Jundiaí, São Paulo. Nós planejamos uma carreira que ainda está em andamento”, afirmou a faixa-preta.
Os títulos mais expressivos de Eve foram já na faixa-preta, ela é multicampeã de Opens da IBJJF e do ADCC, além de ter obtido sucesso em torneios estaduais da CBJJE. Para ela, o mais marcante dos títulos foi o ouro do Campeonato Brasileiro sem Kimono, competição da IBJJF que aconteceu no Rio de Janeiro. Ser atleta é superar limites constantemente e obstáculos não são impostos somente no dia de competição, com uma série de adversárias para superar até o topo do pódio, fato que Evellyn conhece bem.
“Manter-se como atleta profissional no Jiu-Jitsu é uma jornada exigente, marcada por diversos desafios como treinamento, finanças, saúde física e mental, além das competições. Eu vivi duas fases diferentes com relação a isso tudo no Jiu-Jitsu. Antigamente tudo era mais difícil, tanto que acabei deixando esse sonho de lado por conta da falta de apoio. O esporte ganhou mais voz e valorização e isso melhora a cada ano. Antes, eu tinha que fazer rifa ou pedir ajuda para conseguir me inscrever em competições, era muito difícil. Hoje conto com o apoio de diversos patrocínios.”, compartilhou.
Eve fala sobre evolução do Jiu-Jitsu feminino: “promove a ideia de que o Jiu-Jitsu é para todos”
Por mais que o Jiu-Jitsu feminino tenha evoluído muito nos últimos anos, o fato de existir uma mulher faixa-preta na batalha, marcando presença significativa nos principais torneios, é ainda uma confirmação muito forte de empoderamento feminino no esporte.
“A presença de grandes campeãs em campeonatos mundiais e nacionais, na faixa-preta e nas coloridas, como Gabi Pessanha, Bia Basílio, Ffion Davies e Sarah Galvão, tem inspirado uma nova geração de mulheres a praticar o esporte e competir. Essas atletas não apenas demonstram força e técnica necessárias, mas também ajudam a promover a ideia de que o Jiu-Jitsu é para todos, contribuindo para aumentar a representatividade e inspirar outras atletas a seguirem o mesmo caminho.”, analisou.