
Em setembro do ano passado, a lutadora de MMA brasileira Daiane Silva foi parar no noticiário por conta de um infortúnio no corte de peso. Em preparação para lutar no Bellator, Daiane foi submetida a uma severa desidratação para atuar no peso pena, já que seu corpo estava habituado ao peso leve. Na ocasião, Daiane enfrentaria Eman Almudhaf, do Kuwait, mas no dia mais exigente do corte de peso, na véspera, a brasileira foi parar no hospital, em Londres, por conta de uma insuficiência renal.
Alex Davis, empresário da atleta, cedeu uma entrevista ao site MMA Fighting e falou mais sobre a experiência assustadora que viveu por conta da preocupação com o estado físico da atleta. Empresário tarimbado no ramo da luta, Alex, que também é do Brasil, revelou que nunca passou por nada parecido e que agora ele tem uma noção mais abrangente dos perigos desse tipo de atividade, normalizada no MMA.
“Isso nunca tinha acontecido comigo. Eu nunca tinha passado por isso, não sabia o suficiente sobre isso. Foi uma primeira vez para mim, toda essa situação que aconteceu. Não sei se há diferentes graus de ida ao hospital. Infelizmente, foi uma situação muito educativa. Porque eu não entendia o que acontecia com o atleta quando ele cai daquele penhasco.”, desabafou Alex.
Alex Davis contou que informações detalhadas sobre o estado de saúde da atleta não circularam de propósito
Hospitalizada, Daiana Silva foi colocada em coma induzido pelos médicos e a gravidade do caso não foi totalmente divulgada. O Bellator não emitiu um comunicado oficial com detalhes, tampouco a família autorizou a liberação de informações sobre o estado de saúde da paranaense. Segundo Alex, a decisão de manter o caso fechado foi tomada em meio privado.
“Foi muito assustador. A Daiane e a família dela, durante o processo, não queriam que nada fosse divulgado na mídia. Assim que aconteceu, o Bellator fez um excelente trabalho. Eles descobriram que tinha um problema e colocaram um médico para solucioná-lo. Quando o médico se deu conta da gravidade do caso, uma ambulância foi acionada para levá-la ao hospital. Se eles não tivessem agido com rapidez, principalmente o Eduardo (Lima), que trabalha com a PFL e o Bellator, isso poderia ter tido uma consequência diferente.”, explicou.
O empresário também contou na entrevista que manteve constante contato com a equipe médica que cuidava de Daiane em Londres, assim como ficou próximo da família e dos coaches dela. Ele disse que já testemunhou atletas passando mal por conta dos traumas de um corte de peso, mas nada que chegasse perto de uma situação de coma induzido.
“Eu recebi a notícia que ela estava em coma induzido e não fazia ideia do que acontecia a partir desse estágio. Eu pensei que quando alguém desmaiava durante o corte de peso, bastava hidratá-la novamente, mas não é bem assim que acontece. Agora eu sei. Eu não sou médico, então me desculpa se estou falando algo equivocado, mas o que acontece aqui, de uma forma generalizada, é que quando você passa por desidratação, os níveis de sódio sobem muito. Isso é um problema para os rins, cérebro, tudo.”, comentou.
Conclusão dos médicos fez com que Alex percebesse os perigos que Daiane estava correndo
O manager falou também que ouvir essa constatação diretamente de uma equipe médica deixa toda a situação ainda mais assustadora. Como um choque de realidade que escancara o alto grau de periculosidade da desidratação no corte de peso.
“Eu não sabia sobre isso. Era realmente ignorante sobre essa sequência de acontecimentos. O primeiro prognóstico que recebemos é que ela teria que fazer diálise pelo resto da vida, provavelmente, e que ficaria inconsciente por bastante tempo. Foi aí que tudo ficou realmente assustador. Quando você ouve esse tipo de coisa de médicos, especialistas falando, você fica assustado.”, relembrou.

Como o quadro médico de Daiane Silva não apresentava melhora, houve uma conversa para levá-la de volta ao Brasil e o tratamento teria continuidade em seu país de origem. Uma demanda que exigiria um transporte especializado, com equipe médica a bordo para monitorá-la. Antes que pudessem viabilizar a viagem, Daiane começou a melhorar.
“Surpreendentemente, ela começou a melhorar. Eles começaram a notar uma melhora, uma melhora lenta, foi um anjo ao lado dela. Quando se tem uma situação assim, eles começam a desfazer o coma induzido, mas não é como se virasse uma chave e ela acordasse de repente. Não, isso acontece lentamente. Ela estava voltando devagar e era importante que tivesse alguém conversando e estimulando ela. Foi assim que aconteceu.”, compartilhou Alex.
Daiane Silva já está de volta ao Brasil e, apesar de ter sobrevivido, ela ainda precisa de cuidados médicos com custos que estão saindo do próprio bolso dela. De acordo com Alex, eles estão pensando na possibilidade de abrir uma vaquinha virtual para arrecadar fundos que vão ajudá-la com as despesas.
“Não sei quem mais terá que passar por isso, não sei se alguém vai ter que morrer. Não sei o que vai ser preciso. Por mais ignorante que se seja, ainda está acontecendo.”, concluiu o empresário.