
Manaus, periferia, falta de apoio e sonhos que pareciam inalcançáveis: essa é a jornada de Carlos Henrique, faixa‑preta e campeão inaugural do UFC BJJ. Em entrevista exclusiva ao VF Comunica, o atleta revela como transformou adversidade em combustível para sua carreira, passando por projetos sociais, derrotas repetidas e uma rotina de treinos implacável até erguer o cinturão em um reality show histórico da organização do UFC.
Carlos recorda as dificuldades iniciais em sua cidade natal, onde o jiu‑jitsu é popular, mas sem infraestrutura ou patrocínio real:
“Acho que como todo mundo sabe, a vida foi muito dura. Acho que para muitos atletas do Brasil que vêm da favela, vêm da quebrada. Sempre é mais difícil. A correria é outra, né? A gente não tem só que treinar, tem que trabalhar, tem que fazer um a mais, né? Para poder chegar no objetivo. E comigo não foi diferente, né? Vim de Manaus, nasci na periferia também, com dificuldade familiar, com dificuldade financeira, então tipo, foi muito, o começo da minha trajetória foi muito dura, que tipo, Ninguém apoiava. Em Manaus é muito popular o jiu‑jitsu, né?”, recorda Carlos, hoje faixa-preta de Jiu-Jitsu renomado.
Apesar do cenário adverso, Carlos não desistiu e encontrou no esporte uma saída aos 14 anos de idade:
“Comecei a treinar com 14 anos em 2014. Um projeto social, como todo mundo da favela começa. 14 anos, conheci um professor, o nome dele é John Clay, meu primeiro professor da CheckMat. Foi a primeira pessoa que me apresentou realmente o Jiu‑Jitsu. Eu comecei a treinar, eu achava que o Jiu‑Jitsu era só aquele agarra‑agarra ali em Manaus, uma academia. Aí quando eu mudei para essa academia, com esse meu professor, John Clay e Ivaniel Oliveira, eles me apresentaram o Mundial, a BJJF, o Panamericano, por conta que alunos da academia dele, que era o filho dele na verdade, chegou a competir com o Panamericano, Mundial e Europeu.”
Mesmo após se mudar para São Paulo e integrar o Dream Art, Carlos enfrentou nova fase de derrotas até encontrar seu ritmo:
“No começo da minha carreira eu não tive tanto sucesso. Acho que de 2014 até o momento que eu fui para São Paulo para o Dream Art era muito mais derrota do que vitória, sabe? Tipo, os campeonatos em Manaus, eu sempre batia na trava, todas as vezes. É uma história até engraçada. Tipo, o Ronaldinho, ele era o meu carrasco. Toda vez era eu e ele, ele me batia. Perdi umas sete vezes pra ele. Antes de eu ter a oportunidade de mudar para São Paulo, para o Dream Art, eu estava numa fase de já parar de treinar, aposentar, porque eu achava que não era pra mim. Minha última competição que eu fui foi pro Brasileiro em 2019. Eu competi, perdi, voltei para Manaus, nada mudou”, relmbra Carlos, que também diz que o apoio da mãe foi fundamental para manter viva a ambição de seguir no esporte:
“Mãe, me dá mais um tempo, sabe? Me dá mais um tempo que eu vou conseguir me destacar pra poder fazer acontecer, sabe? E ela sempre, tipo, acreditando, tipo, tá bom.”
Para virar o jogo, Carlos adotou uma rotina lendária e começou a ver seu trabalho evoluir, além de começar a conquistar medalhas de ouro:
“Eu vou trabalhar, eu vou ser o primeiro a chegar na academia, eu vou ser o último a sair. Acordava cedo, tentava comer certinho, sabe? Tinha bastante dificuldade ainda, mas eu tentava manter essa rotina, sabe? E foi quando eu comecei a ter resultado”, diz Carlos, hoje astro do UFCBJJ.
No primeiro reality show do UFC BJJ, Carlos foi um dos maiores destaques da competição, ele venceu três lutas por finalização. Primeiro, finalizou Gianni Grippo no estrangulamento, depois Isaac Doerdelein no armlock e, na final, contra o compatriota Danilo Moreira, Carlos também finalizou.
“Eu fui o primeiro brasileiro e o primeiro a pegar o cinturão, sabe? Foi muitas coisas juntas. Eu tive que me expressar. Foi bem legal. Foi diferente”, comenta.