
A trajetória de Rafael Silveira Borges, um dos nomes mais promissores do Jiu-Jitsu atual, é daquelas que começam antes mesmo do atleta entender o próprio destino. Filho do faixa-preta Rodney Cozendey, Rafael iniciou no tatame ainda criança, como uma brincadeira guiada pelo pai, mas que rapidamente se transformaria em vocação. Hoje, aos 24 anos, ele é tricampeão mundial, cinco vezes campeão brasileiro e dono de uma das ascensões mais sólidas e coerentes do BJJ moderno.
Vindo de uma faixa-marrom praticamente invicta e graduado à faixa-preta por André Galvão, Rafael representa a nova geração de atletas que unem técnica refinada, mentalidade madura e profissionalismo extremo.
Nesta entrevista exclusiva da VFComunica, Rafael abre o coração e revisita sua jornada: as figuras que o formaram, as dores e superações, as lições da Atos HQ, a construção de seu estilo único — e a visão de futuro para sua carreira como faixa-preta.
Rafael cresceu sob influência direta do pai, que não apenas apresentou o Jiu-Jitsu como “escolheu essa vida para mim quando eu ainda era uma criança”, relembra. Rodney foi o primeiro incentivador e responsável por direcioná-lo ao caminho das competições desde cedo.
O passo seguinte foi decisivo: aos 14 anos, Rafael se mudou para São José dos Campos para integrar o programa dos irmãos Cláudio e Marco Calasans, vivendo integralmente do Jiu-Jitsu ainda adolescente. Rafael lembra de Calasans Jr. como “o divisor de águas da minha carreira”, alguém que moldou não só seu jogo, mas sua postura competitiva. Ele admite: “Me inspirei, me espelhei e copiei ele em tudo… do jeito que lutava ao comportamento calmo porém agressivo nas lutas.”

Mas foi com André Galvão, líder da Atos e uma das maiores lendas do esporte, que Rafael deu o salto definitivo. Através de Calasans, Rafael foi convidado a treinar na Atos HQ, em San Diego, convivendo diariamente com campeões mundiais.
“O André me deu a oportunidade de vir para os EUA. Aprendi a ser mais profissional, conviver com ídolos, aprender com pessoas que eu via só na televisão. As pessoas que vi treinar mais na vida foram o André Galvão no camp do ADCC e o Calasans Jr. em 2015. Eles são lendas porque eram muito esforçados.” É desse trio — pai, Calasans e Galvão — que nasce o DNA competitivo e humano de Rafael.
A fase marrom: dor, desclassificação e a construção de um invicto Depois de contextualizar as raízes da sua mentalidade competitiva, Rafael entra no tema que muitos consideram o auge técnico antes da faixa-preta: sua fase marrom. Ele viveu ali o pior e o melhor ano da carreira.
O momento mais difícil foi a perda de sua avó, um mês antes do Mundial. No evento, acabou desclassificado por uma decisão altamente controversa. “Fiquei devastado por tudo estar acontecendo ao mesmo tempo.”
Mas é justamente dessa dor que nasce sua sequência histórica:
💠 1 ano invicto
💠 ouro no Pan
💠 ouro no Mundial
💠 atuação dominante no circuito
💠 e finalmente a faixa-preta entregue por André Galvão no tatame do Mundial 2023
A transição do luto ao auge técnico revela a resiliência que molda Rafael — e explica por que seu nome é tão esperado na elite da preta.
Rafoplata: a assinatura técnica e o lado criativo do seu jogo
Depois de falar do psicológico, Rafael entra no campo técnico — e poucos atletas têm hoje uma marca tão clara quanto a dele: a omoplata, apelidada pelos fãs de Rafoplata.
Tudo começou em 2014, quando ele ganhou uma revista da GracieMag com Clark Gracie após o Pan.
A inspiração virou prática: No Europeu da IBJJF, já contra atletas de ponta como Jansen Gomes, Rafael usou a omoplata para conquistar seu primeiro double gold.
Ele explica: “Fui descobrindo novos métodos, criando novos caminhos e aperfeiçoando habilidades… virou minha marca registrada.” Hoje, a omoplata não é apenas uma posição — é parte da identidade técnica que diferencia Rafael no cenário internacional.

