
O Jiu-Jitsu não é apenas sobre aprender a lutar. Para o brasileiro Rafael Neves, faixa-preta 2º grau da Gracie Humaitá, a verdadeira força dessa arte marcial reside em seu poder de formar cidadãos mais preparados para a vida. O ensino de Jiu-Jitsu para crianças, quando feito corretamente, é uma ferramenta poderosa para formar cidadãos mais disciplinados, respeitosos e emocionalmente preparados para os desafios da vida. Com uma experiência que atravessa fronteiras, de sua passagem pela Gracie Humaitá ao ensino na Austrália, Rafael desenvolveu um método que une técnica e valores fundamentais.
“Na Gracie Humaitá, a filosofia de ensino sempre foi embasada em mais do que apenas a técnica. Mestre Hélio Gracie, com sua sabedoria, sabia que o Jiu-Jitsu deveria ser algo prazeroso e educativo. Ele ensinava seus netos, sempre com alegria, mas com um nível de seriedade que formava não só grandes atletas, mas pessoas de caráter”, conta Rafael.
Essa visão permeia seu trabalho com as crianças. Para ele, o Jiu-Jitsu deve ser um meio de ensinar a vida, e isso deve ser feito com respeito e disciplina, mas também com prazer e leveza.
“Uma criança que vivencia essa experiência, ao aprender um movimento de defesa pessoal, se sente empoderada. Ela não só aprende a se defender, mas também leva para sua casa os valores do respeito, da disciplina e da prática saudável”, completa Rafael, que além de seu trabalho com crianças, é também um competidor experiente. O professor já conquistou medalha de ouro no Nacional Australiano da AFBJJ em 2024, duas medalhas de ouro no Sydney Open da IBJJF em 2023, além de 3 medalhas de prata no Pan Pacific da IBJJF em 2022/23/24.

Para crianças entre 3 e 5 anos, Rafael adota uma abordagem extremamente lúdica. O faixa-preta, a seguir, explica sobre como tornar o aprendizado divertido para as crianças mais novas.
“De forma bem lúdica é possível fazer trabalhos incríveis com as crianças. Você quer que elas corram? Não puxa corrida inicialmente, você brinca de pega-pega. Quando as crianças já estão correndo, você muda a brincadeira para corrida e consegue trabalhar o lateral para dentro e para fora, levantando joelho ou calcanhar porque as crianças já estão engajadas com o exercício e com o professor”, detalha Rafael.
A competição sempre foi uma parte importante do Jiu-Jitsu. Para muitos atletas, ela representa uma forma de medir o progresso, testar suas habilidades e se desafiar. No entanto, para crianças, a competição precisa ser encarada de forma diferente. Rafael Neves, faixa preta 2º grau da Gracie Humaitá, compartilha sua visão sobre a competição e como ela deve ser introduzida no Jiu-Jitsu infantil. Para ele, a competição é uma excelente oportunidade de crescimento, mas não deve ser a principal razão pela qual uma criança pratica o esporte.
“A Competição deve ser um meio, não o fim do propósito da prática do Jiu-Jitsu. Competir é ótimo, todos os praticantes sentem grandes melhorias após a competição, seja devido à preparação ou à própria competição, mas é perceptível que há grande desgaste físico e psicológico”, explica Rafael, que ainda sugere que, em uma escola que oferece aulas cinco vezes por semana, o ideal é separar de duas a três aulas semanais para discutir valores como coragem, autocontrole, justiça, sabedoria, hábitos saudáveis e trabalho em equipe.
Rafael Neves acredita que o Jiu-Jitsu infantil deve ir além da prática técnica e da preparação física. Ele enfatiza a importância de integrar valores fundamentais no ensino, pois acredita que isso contribui para a formação do caráter das crianças.
“Por meio do planejamento de aula, é possível disponibilizar tempo para atender todas essas demandas”, afirma Rafael.