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Roney Edler prepara camp no Ceará para promover intercâmbio entre alunos do Nordeste e Estados Unidos

A proposta é somar experiência no camp com a participação dos atletas no Fortaleza Open, da IBJJF

Roney Edler ministra aulas de Jiu-Jitsu em uma filial nos Estados Unidos. No entanto, ele também é líder da Sertão BJJ no Brasil.
Roney Edler ministra aulas de Jiu-Jitsu em uma filial nos Estados Unidos. No entanto, ele também é líder da Sertão BJJ no Brasil. Foto: Arquivo Pessoal

Roney Edler está com novidades pela frente. O faixa-preta, fundador da Sertão BJJ, está programando um camp com Luan Carvalho, um dos principais nomes da Nova União, para os alunos que treinam no coração da equipe, em Jericoacoara, no Ceará. A ideia é imergir os alunos do Brasil nessa experiência de conhecimento mais profundo do Jiu-Jitsu, e aproveitar para fazer um intercâmbio com alguns de seus alunos da matriz nos Estados Unidos. Logo em seguida, com a memória do acervo de técnicas ainda fresca do camp, os atletas vão partir para o Fortaleza Open da IBJJF, em busca do ouro na competição. O camp, segundo Roney, vai acontecer todo ano.

Em entrevista ao VF Comunica, Roney falou mais sobre as suas origens no Jiu-Jitsu, como agiu para fazer do esporte um instrumento de mudança de vida e, naturalmente, deu mais detalhes sobre o camp com Luan Carvalho.

Leia a entrevista completa abaixo:

VF COMUNICA: Roney, porque o Jiu-Jitsu se tornou um esporte referência nos Estados Unidos no combate ao bullying?

RONEY EDLER: Acho que não é só o BJJ, mas qualquer arte marcial pelo fato de estimular o autocontrole, confiança e resiliência para saber contornar e até mesmo sair de um eventual contato físico indesejado.

VF COMUNICA: Como o Jiu-Jitsu pode ser uma ferramenta eficaz na promoção da saúde mental e emocional?

RONEY EDLER: O Jiu-Jitsu é a ferramenta certa para trabalhar especialmente esses dois pontos citados, pois mostra que todo dia temos que nos superar e que nem sempre estamos bem fisicamente e mentalmente. Então, já começamos a sair da zona de conforto no momento em que o lado mental briga, querendo desistir. Isso, consequentemente, trabalha o emocional, pois vamos nos habituando com a possibilidade de treinos bons e ruins, mas vamos mesmo assim para superar e transpassar essa barreira, nos fortalecendo blindando a mente.

VF COMUNICA: O Jiu-Jitsu é um esporte que injeta autoconfiança, disciplina e autodefesa. Como você enxerga e detalha o Jiu-Jitsu além do esporte? 

RONEY EDLER: Pronto, tudo que você citou está certo. Vou contar como entrei para o mundo do Jiu-Jitsu. Eu entrei procurando por uma arte marcial que me fizesse ser mais forte na rua porque eu brigava muito. Então, entrei no Jiu-Jitsu para melhorar minha briga de rua. No entanto, o Jiu-Jitsu, como arte marcial, tem filosofia e outros caminhos que mostram que estamos errados em usar a força ou querer mostrar algo, e isso foi o que eu vi no Jiu-Jitsu. Eu brigava na rua para mostrar que eu podia e que era melhor que alguém, mas o Jiu-Jitsu me mostrou que não precisava brigar na rua, que não preciso bater em ninguém pra ser melhor do que ele e que minhas atitudes como ser humano, ser um bom aluno, um bom irmão, dentro e fora do tatame. Foi isso que me transformou, quem fez isso foi o Jiu-Jitsu por me dar confiança e autocontrole. Então, ele molda e forma campeões para a vida e não somente dentro dos tatames.

VF COMUNICA: O universo do Jiu-Jitsu é gigante, bem vasto além da competição. O que você tem visto nos últimos anos sobre esse crescimento do Jiu-Jitsu nessas áreas? 

RONEY EDLER: Estamos vendo o nosso esporte se tornando visível mais e mais, vemos o Jiu-Jitsu abrindo portas e mudando vidas de pessoas, pois esse é o maior crescimento, o crescimento do reconhecimento e oportunidades.

VF COMUNICA: Você, como professor; qual foi a maior mudança que viu na vida de um aluno depois que ele conheceu o esporte? Tem algum relato? 

RONEY EDLER: Eu tenho um testemunho dentro da equipe. Quando ela ainda era recém-fundada, eu estava no Brasil como faço todo ano, no mês de dezembro, quando passo em minhas filias visitando e graduando alunos. Eu estava em Sobral, no Ceará, inaugurando a academia quando me deparei com um adolescente atordoado e nervoso, perto da academia, e como sei que as drogas estão em todos os cantos, eu achei aquele comportamento estranho. Fui ao encontro dele e ele me disse que estava atrás de uma pessoa para matar, logo em seguida ele me mostrou uma faca enorme na cintura. Era véspera de Natal. Eu acalmei ele conversando, foi quando ele perguntou o que eu era e disse que treinava BJJ. Assim, o convenci a esquecer esse pensamento e que era hora de mudar. Eu estava ali para estender a mão a ele como sempre faço. Deus toca meu coração e me usa para fazer isso. Hoje esse rapaz treina e se transformou. Em fevereiro, recebi uma mensagem dos pais dele, no perfil da equipe, agradecendo por tudo que eu fiz e faço pelo filho deles, que estava perdido e se encontrou no Jiu-Jitsu. Hole ele é outro garoto. Isso sim é o meu maior pagamento, que dinheiro no mundo não compra. Essa satisfação de saber que eu, através do meu esporte, salvei mais um.

VF COMUNICA: Porque no Brasil, o Jiu-Jitsu não desenvolveu em tamanha proporção como os Estados Unidos? Você acredita que tem algum fator sobre isso?

RONEY EDLER: Não se desenvolve por falta de políticas voltadas para o esporte. O estado precisa dar à juventude a opção de escolha, qualquer que seja o esporte. Eu acredito que onde o esporte chega, a droga e a criminalidade não vão ter espaço. Aqui nos Estados Unidos, você tem várias modalidades de esporte para treinar. Eu vou dar um exemplo, ainda mais irado, que eu vi a partir de um aluno meu, que estuda pela manhã e tem outras atividades. O melhor horário dele para treinar é pela manhã, antes de ir à aula ele veio me perguntar se tinha problema filmar o treino. Eu perguntei o porquê da filmagem, para saber mesmo. Ele me disse que, como o horário que ele treina é pela manhã, ele precisaria chegar atrasado na escola. Foi quando ele me disse que a escola libera ele para chegar atrasado, porque ele estava praticando uma atividade que a escola não oferecia. Aqui, eles percebem que o esporte agrega muito na formação de um bom ser humano. Então, ele filmava para poder entrar atrasado na escola. Eu não sei se é no país todo, mas aqui na cidade acontece isso, no estado que eu moro, Topeka-Kansas.

VF COMUNICA: A Sertão BJJ está organizando um camp no Ceará com Luan Carvalho, faixa-preta da Nova União. Pode falar um pouco mais sobre isso?


RONEY EDLER: Sempre gostei de procurar me aperfeiçoar. Então, desde meu início na Arte Suave, procuro participar de seminários. Por mais que eu veja alguma técnica que eu já sei, eu sempre aprendo algo a mais para ajustar e somar no meu Jiu-Jitsu. Então, quando comecei a ensinar não seria diferente. Sempre procurei trazer seminários ou aulões para meus alunos. Já tivemos em minha academia seminários com nomes expressivos, como Tayane Porfírio, que é de minha cidade natal, tivemos também a presença do Alex Sodré, Luan Carvalho e Gabriel Sousa, aqui nos EUA. O Luan já é meu amigo de muitos anos, e como ele mora no Brasil, ficou fácil levá-lo para o nosso primeiro camp que acontecerá em Jericoacoara, no Ceará. Uma das dez praias mais belas do mundo fica no berço da Sertão BJJ, onde alguns alunos aqui dos EUA vão para ter a experiência de treinar no coração da sertão, com alguns alunos do Brasil e convidados, além de também poderem dividir o tatame com o Luan, um dos melhores do peso leve. Será uma semana de camp, de 10 a 16 de junho. Logo em seguida os alunos irão participar do Fortaleza Open IBJJF.

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Escrito por Emmanuela Oliveira

Emmanuela Oliveira é faixa-marrom de Jiu-Jitsu e formada em Comunicação Social. Dentro do tatame, aprendeu que é possível conjugar Jiu-Jitsu, escrita e o gosto pelas artes visuais em um só pacote.

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