O que mais impressiona na história de vida do atleta Pablo Lavaselli, o argentino mais carismático do Jiu-Jitsu, não são nem os títulos, por si só louváveis, conquistados na divisão adulto da faixa-preta: campeão do Campeonato Brasileiro da CBJJ, bicampeão do Abu Dhabi World Pro e vice-campeão Pan-Americano pela IBJJF, somente citando alguns exemplos. Nascido em Buenos Aires, o atleta nunca levou a sério o fato de não ter uma academia adequada para treinar, com material humano suficiente para fornecer treino de frequência competitiva. Desde à faixa-azul, à medida que a experiência adquirida refletia nas mudanças de cores de sua faixa, Pablo Lavaselli treinava em casa, fazendo intercâmbio de conhecimento com os amigos, até que fosse possível, com o próprio esforço, fazer parte da elite do Jiu-Jitsu.
Atualmente, Pablo Lavaselli faz parte do quadro da AOJ, uma das mais prestigiadas escolas de Jiu-Jitsu do mundo, como coach e atleta. A saída da Argentina para se estabelecer nos Estados Unidos não foi fácil, o que exigiu adaptação a um novo país e muita economia financeira da grana que ele fez no Jiu-Jitsu e como professor de Educação Física. Acostumado em ser o seu próprio motivador, Pablo sentiu na hora as vantagens de fazer um treino comandado por alguém, ainda mais sendo no território dos irmãos Mendes.
“Fazia muito tempo que eu não tinha ninguém me puxando, sabe? Sempre fui eu tendo que me motivar e tendo que chamar outras pessoas para treinar. Agora, não preciso me preocupar com essa parte, tem todo o pessoal lá, com o Guilherme puxando o treino. Então, para mim, fica bem mais fácil assim. É bom poder contar com um cara como o Guilherme, quatro vezes campeão mundial, além dos outros títulos.”, conta à equipe do VF Comunica, orgulhoso de onde conseguiu chegar.
Pablo Lavaselli teve que se dedicar o dobro para conseguir vaga de professor
Por mais que na AOJ Pablo tivesse acesso a um método de treinamento ideal para quem almeja ascender competitivamente, ele queria mais, tinha planos de conseguir uma vaga de professor na equipe dos Mendes. A fórmula para que ele conseguisse alcançar esse objetivo não teve mistério: trabalho e muito interesse.
“Minha ideia era conseguir entrar na AOJ o mais rápido que eu pudesse. Eu queria ser não somente atleta da AOJ, mas fazer parte da equipe como professor, como coach, porque é algo que eu sempre gostei. Eu sabia que não seria fácil, eu sou o mais velho dos caras aqui, a maioria vem do programa deles, desde criança até agora, como é o caso do Tainan. Então não é fácil você chegar aqui e já ter um emprego. Você tem que mostrar o seu trabalho. Eu chegava, fazia os treinos e ficava vendo as aulas das crianças, todos os dias.”, detalha o faixa-preta, até que Tainan Dalpra um dia o chamou para ser assistente em uma das aulas.
Com o título de Campeão Brasileiro conquistado em 2022, Pablo ganhou, além do ouro, o status de primeiro argentino a alcançar tal patamar na elite do Jiu-Jitsu. Para ele, esse tipo de pensamento fica em segundo plano, o mais importante é chegar no torneio e mostrar um bom trabalho.
“Eu sempre penso em ir e ganhar, independentemente de onde eu venho. Para mim, não faz diferença se venho da Argentina ou do Brasil. Porque isso pode soar como uma desculpa. Eu sou igual aos brasileiros, tenho que chegar e ganhar. Depois, é lógico, por ser o primeiro argentino, eu sinto muito orgulho disso, fico muito feliz de poder contribuir com a expansão do Jiu-Jitsu para outros países.”, revela.
No Pan do ano passado, Pablo lutou com Johnatha Alves, parceiro de treinos na AOJ
Recentemente, no Pan-Americano de 2023, disputado na América, Pablo Lavaselli viveu um momento marcante da carreira de competidor: viu-se dentro da final dos leves que teria que ser disputada com Johnatha Alves, parceiro de treinos da AOJ. De acordo com Pablo, a decisão de lutar, evitando o fechamento do final da divisão, foi uma atitude tomada com o intuito de fomentar uma postura de profissionalismo.
“Para mim era muito difícil lutar com ele, na verdade. Eu não queria, mas eu sabia que seria mais profissional no esporte, que eu ia ajudar nessa área. Então, a gente resolveu lutar, dar o exemplo. Na IBJJF, você está pagando a inscrição e está lutando. Então, eu entendo as pessoas que querem fechar. Mas, se é um campeonato que você foi convidado, aí não tem como. Eu respeito as pessoas que concordam e as que não concordam. Entendo os pontos de vista. Mas, se for um campeonato como convidado, não tem como fechar, você foi pago para dar um show para o público.”, conclui sua linha de raciocínio sobre um tema bastante discutido no meio competitivo do Jiu-Jitsu.
Assista na íntegra a entrevista com Pablo Lavaselli no canal VF Comunica, no YouTube: