Para uma mulher, praticar um esporte majoritariamente composto por praticantes do sexo masculino impõe alguns desafios, alguns deles intransponíveis até que resultam no abandono da atividade no meio do caminho. A participação feminina no Jiu-Jitsu teve que sobreviver em terreno inóspito por muito tempo. Uma realidade de escassez de companheiras mulheres, poucas oportunidades, preconceito, etc. Foram por atitudes de atletas como Nika Schwinden, faixa-preta da Gracie Barra há seis anos, que o cenário experimentou uma mudança transformadora. Uma interferência que perdura com o passar do tempo, sem chance de enfraquecer.
“Esse ano completo seis anos de faixa-preta. Nas faixas coloridas competi muito, me mantive em primeiro lugar no ranking na minha divisão, de azul a marrom. Na faixa-preta, competi no primeiro ano e me afastei das competições para focar na escola e nos projetos que envolvem o Jiu-Jitsu para todos. Hoje, nossa escola e eu já formamos mais de oito faixas-pretas mulheres e, com certeza, esse é o maior feito da minha carreira. Poucas mulheres no mundo do Jiu Jitsu estão focadas em formar mais mulheres e isso é propósito forte por aqui.”, explica, salientando a importância de multiplicar as representantes da Arte Suave.
Nika Schwinden é formadora de opinião, com mais de 100 mil seguidores nas redes sociais
Produtora de conteúdo, Nika identificou a rede social como uma aliada fundamental na propagação do seu conhecimento. Com formação em psicologia, área que deve sempre ser considerada no campo do treinamento esportivo, em cuidado com a saúde mental, a faixa-preta aponta como maior desafio a profundidade do conteúdo que cria. Diante de uma oferta enorme de posts superficiais, essa é uma tarefa nada fácil.
“Eu vivo o Jiu-Jitsu na prática, não sou um discurso de rede social. Há 10 anos trabalho 12 horas por dia em prol do Jiu-Jitsu, em prol das mulheres e da minha comunidade. Brinco que faço sorrindo o que muita gente não aguentaria chorando. Essa é a verdade! Existe um preço a ser pago, e ele é alto.”, comenta em conversa com a equipe do VF Comunica.
Vivendo uma fase do Jiu-Jitsu em “franco crescimento”, como ela mesma diz, Nika faz parte do corpo de professores do GBF Camp, uma iniciativa da Gracie Barra para conectar as atletas em um evento composto por muita troca de boa informação. Esse ano, dois camps já estão agendados, no Brasil e nos Estados Unidos. A primeira parada é em Phoenix, no Arizona, dos dias 23 a 25 de fevereiro. Em março, dos dias 8 a 10, é a vez do Brasil, com o camp sediado em Florianópolis.
“O GBF Camp é o maior evento de Jiu-Jitsu feminino do mundo. Em 2023, colocamos 150 mulheres em um final de semana voltado ao esporte. Este ano, serão duas edições, uma agora em fevereiro no Arizona, liderado pela Vivi Almeida, com 200 mulheres e o nosso em março, no Brasil, com mais de 320 mulheres. Serão três dias de Jiu-Jitsu com esse público. Acredito que estamos escrevendo a história de uma parte importante para o desenvolvimento do Jiu-Jitsu feminino.”, afirma, na expectativa de viver mais um ano de ascensão sem freios.