O grappling está em franca ascensão e cada vez mais passa a ser uma tendência entre os praticantes de Jiu-Jitsu. O surgimento de fenômenos da modalidade, como Gordon Ryan, potencializaram o desenvolvimento do sem kimono e a migração para o nogi tem sido natural para boa parte dos atletas.
Diante do crescimento do grappling, a equipe do VF Comunica recorreu a três craques que explicaram os principais desafios da transição do Jiu-Jitsu com kimono para o grappling.
Os faixas-pretas Bernardo Passos, Ruan Alvarenga e Luciano Bernert analisaram os principais ajustes a serem feitos durante esse processo.
Bernardo cita conceitos básicos para evoluir
Faixa-preta de Jiu-Jitsu e de Luta Livre, Bernardo é uma joia do grappling na Europa. Bernardo tem empilhado conquistas na França e pode pintar no ADCC 2024. Bernardo escolheu se dedicar ao grappling devido às regras porque seu estilo é voltado às chaves de pernas.
“Até minha faixa-roxa de Jiu-Jitsu, eu competia com kimono algumas vezes, mas por eu ser oriundo da Luta Livre, as regras do kimono sempre limitavam bastante o meu jogo. Eu perdia todo meu sistema de ataques de pernas e, por isso, optei por focar só nas regras da Luta-Livre ou ADCC”, relembrou Bernardo.
Bernardo apontou que é fundamental treinar com grapplers para se familiarizar com a modalidade e afiar as habilidades no sem kimono.
“São esportes diferentes, porém, com adaptações corretas, é possível você ser um grande finalizador nas duas modalidades. Quando você tira o kimono, você deve começar a treinar com grapplers. Muitos não obtêm bons resultados porque não treinam com especialistas. Treinar numa escola de Luta Livre ou de grappling é essencial para a evolução. Com isso, você entenderá os conceitos básicos de pegadas, como controlar seu adversário estando por cima ou por baixo. Além disso, você vai desenvolver pensamentos mais rápidos, pois o não tem como travar o adversário por muito tempo no nogi. Com o tempo, você vai aprender formas de finalizar o oponente mais rápido e a ganhar posições favoráveis”, declarou o faixa-preta.
Ruan lista dicas para os atletas de grappling
Ruan Alvarenga vive ótimo momento no grappling e é um dos pesos-penas mais adaptados ao grappling. O pupilo de Marcelinho Garcia é um finalizador nato e se tornou um competidor eficiente. Ruan destacou que o atleta deve priorizar os treinos sem kimono, caso queira se profissionalizar na área.
“Não vejo diferença no espírito competitivo porque ambos são competições. O que muda são as regras. Então, você deve treinar mais sem kimono ou só sem kimono se o seu foco for competir no nogi”, reiterou o atleta da Alliance.
Ruan listou três aspectos imprescindíveis para fazer a transição de forma eficiente e deu conselhos aos passadores.
“Ensino três pilares fundamentais aos meus alunos, especialmente aos que vêm do kimono. O primeiro é que para fazer guarda, é necessário aprender a fazer conexões. Como não tem pegada, se você não conectar, o cara vai chegar numa posição favorável e vai te amassar. Para jogar por cima, é primordial saber usar bem o seu peso corporal como pressão para anular os escudos ou qualquer tipo de alavanca do guardeiro. O objetivo é chegar bem na lateral ou numa outra posição boa para segurar e botar pressão. O Gordon faz isso muito bem. Você entende esse conceito melhor quando está suado e escorregadio. Ou você faz isso ou não passa a guarda (risos)”, complementou Ruan.
Bernert destaca estilo finalizador no grappling
Líder do Startdoing Project e referência no ensino na região Sul do Brasil, Luciano Bernert faz uma temporada irretocável no Jiu-Jitsu. Ele venceu o Mundial Master e se consagrou campeão brasileiro com e sem kimono.
Bernert detalhou que o Jiu-Jitsu preza mais pelo refino técnico, enquanto as lutas de grappling são mais dinâmicas e menos posicionais.
“O treino com kimono desempenha um papel fundamental no desenvolvimento técnico e abre um espaço para pontos de controle. Ou seja, as golas, mangas e lapelas fornecem o aprimoramento das habilidades, onde a modalidade demonstra ter um nível técnico mais avançado. Já no sem kimono, não existe um tecido de pegada, o que deixa o jogo mais aberto e muda o foco para o controle do oponente e menos para uma técnica aplicada”, disse Bernert.
Luciano mencionou que adaptou seu estilo ao sem kimono mediante à repetição. O faixa-preta frisou que, pela ausência do pano, o leque de finalizações no sem kimono torna-se ainda maior.
“Durante o processo de aprendizado e evolução nos treinos com kimono, com uma base sólida, a transição para o treino sem kimono se torna simples, pois o nível técnico é maior na modalidade com kimono. No entanto, nas finalizações, a principal diferença é a ausência do pano, que pede adaptações nas pegadas. Mas isso não representa um problema para o meu jogo. Por exemplo, na guilhotina, as pegadas variam, mas de maneira semelhante. Além disso, as possibilidades se ampliam para outras posições, como chaves de braço e chaves de pé”, finalizou Bernert.