
A busca por tratamento de igualdade no esporte é um tema que sempre gera debates intermináveis, com opiniões discordantes ou semelhantes, longe de alcançar uma abordagem consensual. Ffion Davies, campeã mundial com e sem kimono, uma das atletas mais bem posicionadas da atualidade, sabe também como impor a sua voz e suas demandas sendo uma mulher que vive da luta, salientando a importância da busca por tratamento igualitário entre homens e mulheres atletas. Em declaração feita nas redes sociais, Ffion Davis fez um pedido para as colegas de profissão, para que não aceitem propostas desvalorizantes, como seminários ou lutas com remuneração zerada ou aquém do merecido.
“Para minhas colegas profissionais – por favor, por favor, POR FAVOR, não aceitem pouco ou nenhuma remuneração por suas aulas, seminários ou lutas. Se você está sofrendo com a síndrome do impostor, como aconteceu comigo, um ótimo ponto de vista que eu conheci anos atrás, da Livia Giles, é que se não cobrarmos de acordo com o nosso valor, nós abrimos precedentes para que as garotas, depois de nós, não consigam exigir o pagamento que merecem e por isso vamos prejudicá-las. Você merece ser paga em shows profissionais, você merece ser paga pelas suas aulas. Nós não esperamos isso dos homens, e é assim que nós apoiamos o Jiu-Jitsu feminino, apoiando as atletas também.”, reivindica.
Opinião rude de Gordon Ryan incendeia a polêmica
Gordon Ryan, que citou superficialmente um ataque prévio de Ffion, extraiu o comentário da atleta e teceu a sua opinião sobre a afirmação. De acordo com ele, um homem do esporte muito valorizado em termos financeiros e de visibilidade, essa não é uma questão de batalha de gêneros, mas um problema decorrente de demanda e geração de receitas.
“As melhores atletas mulheres atualmente e do passado não são atléticas e técnicas como os homens. Você pode chorar o quanto você quiser, mas essa afirmação é um fato. Também não existiu uma mulher que foi capaz de construir uma marca que fosse além do Jiu-Jitsu em si. Se você não está sendo bem paga como uma mulher para competir, não é porque você é mulher. É porque ninguém liga para você. Isso, também, é um fato.”, opina.
As opiniões de Gordon, ácidas e um tanto ofendidas, acabam legitimando a parte final da fala de Fffion, que diz que as mulheres devem se apoiar, sem esperar esse tipo de iniciativa dos homens. Dizer que “ninguém liga” para competidoras do sexo feminino é uma generalização perigosa, que ataca gratuitamente as conquistas do sexo oposto no terreno das artes marciais, estabelecidas ao longo dos anos. Ao longo da interpretação de Gordon Ryan, ele diz que todos devem agradecê-lo pelo crescimento do esporte, hoje com mais receita para remunerar os atletas.
“Tem que ser idiota para pensar que você não está sendo pago nesse esporte por conta da cor da sua pele ou do seu gênero. Quando você se torna uma figura proeminente do esporte e quer encorajar a próxima geração para fazer mais dinheiro, fale de atletas como um todo, não de gêneros. Não faça disso uma questão de preto vs. branco, homem vs. mulher. Chore com essa verdade, mas não me diga como fazer dinheiro em um esporte sem dinheiro, eu já fiz isso, e não crie desculpas para não ganhar dinheiro em um esporte que agora tem dinheiro, agradeça a mim. Tem dinheiro suficiente para todo mundo. Se você não faz ideia de como ganhá-lo, culpe a si mesmo.”, dispara.
Embate entre os pontos de vista masculino e feminino foi inevitável
O curioso disso tudo é que a reação nada gentil de Gordon Ryan, diante do apelo de Ffion Davies, como se o pedido dela se debruçasse de forma direta e negativa sobre o nome dele, é que a própria opinião do grappler acabou transformando o assunto em um embate quente entre as perspectivas masculina e feminina. Pensando friamente, o posicionamento de Gordon, inflado de palavras, é até previsível levando em consideração seu comportamento prévio. Quanto à Ffion Davies, com o braço sempre erguendo uma bandeira que ela faz questão de levantar, fica a certeza que ela vai continuar mostrando um trabalho de excelência em qualquer palco que abrigue seus espetáculos, grappling ou Jiu-Jitsu, no comando de uma performance voluntariamente consumida por um número generoso de admiradores, que reconhece e se inspira na sua trajetória.